sábado, 17 de abril de 2010

O sonho de Pierrot







Bom dia pessoal! Hoje vou contar a se
gunda parte da história...Acordei cedo, e por essa dádiva estpu na internet a essa hora! Dormi bem paacas...Tirando um sonho ou outro, que vejo se tornanado realidade, mas na verdade isso não é um sonho, na verdade, não passa de um pesadelo! Mas , enfim também quero deixar um recado a pessoas que ligam durante a madrugada...VÃO TOMAR NO ...! Porra, se liga é por que tem algo para falar, ainda mais a essa hora, quando as pessoas que trabalham durante o dia, dormem. Ok, Ingrid, vc tbm me ligou as 3:06, mas eu sinceramente não lembro de ter falado com você mesmo! Mas seja lá o que for tá valendo! Sem mais chateação...








ARLEQUIM, sarcástico: Não compreendo um Pierrot que não seja romântico, branco como o marfim, magro como um caniço, enchendo o mundo de ais, sem nunca passar disso.
PIERROT Debochado Arlequim!

ARLEQUIM Branco Pierrot tristonho...

PIERROT Teu amor é lascívia!


ARLEQUIM E o teu amor é sonho...


PIERROT É tão doce sonhar!... A vida, nesta terra, vale apenas, talvez, pelo sonho que encerra. Ver vaga e espiritual, das cismas nos refolhos, toda uma vida arder na tristeza de uns olhos; não tocar a que se ama e deixar intangida aquela que resume a nossa própria vida, eis o amor, Arlequim, misticismo tristonho, que transforma a mulher na incerteza de um sonho...
ARLEQUIM, escarninho: Esse amor tão sutil que teus nervos reclama só se aplica aos Pierrots?


PIERROT Não! A todos os que amam! Aos que têm esse dom de encontrar a delícia na intenção
da carícia e nunca na carícia... Aos que sabem, como eu, ver que no céu reflete a curva do crescente, um vulto de Pierrette...

ARLEQUIM, zombeteiro: Eterno sonhador! Tu crês que vive a esmo tudo aquilo que sai de dentro de ti mesmo. Vês, se fitas o céus, garota e seminua, Colombina sentada entre os cornos da lua... Quanta vezes não viste o seu olhar abstrato nos fosfóreos vitrais das pupilas de um gato?
PIERROT Essas frases cruéis, que mordem como dentes, só mostram, Arlequim, que somos diferentes. Mas minha alma, afinal, é compassiva e boa: não compreendes Pierrot. E Pierrot te perdoa...

ARLEQUIM Tua história, vai lá! Senta-te nesse banco. Conta-me: “Era uma vez um Pierrot muito branco...” A história de um Pierrot sempre nisso consiste...
Começa.
PIERROT narrando: "Era uma vez... um Pierrot... muito triste..."
Uma voz, na distância, corta, argentina, a narração de Pierrot. A VOZ Foi um moço audaz, que vejo no meu sonho claro e doce, O amor que primeiro amei... Abraçou-me: deu-me um beijo e, depois, lento, afastou-se, e nunca mais o encontrei. Num ser pálido e doente resume-se o que consiste o segundo amor que amei. Ele olhou-me tristemente... Eu olhei-o muito triste... E nunca mais o encontrei! Esse amor deu-me o desejo daquele beijo encontrar. Mas nunca, reunidas, vejo, a volúpia desse beijo, e a tristeza desse olhar... A voz agoniza nos ecos. Pierrot e Arlequim tendem o ouvido procurando no ar mais uma estrofe.


ARLEQUIM Essa voz...


PIERROT Essa voz...


ARLEQUIM Só de ouvi-la estremeço...


PIERROT Eu conheço essa voz!


ARLEQUIM Essa voz eu conheço...
Um sopro de brisa arrepia as plantas.

PIERROT Escuta...


ARLEQUIM Escuta...

PIERROT Ouviste? ARLEQUIM Um sussurro...

PIERROT Um lamento...


ARLEQUIM Foi o vento talvez.


PIERROT Sim. Talvez fosse o vento.


ARLEQUIM Conta a história, Pierrot.


PIERROT continuando: Numa noite divina como tu, num jardim, encontrei Colombina. Morena como um trigal maduro e bela como a lua.

ARLEQUIM Era morena também?


PIERROT Tão morena como a tua... Eu descera ao jardim quebrado de fadiga. Dançavam no
salão...

ARLEQUIM, interrompendo: ... uma pavana antiga, e notaste ao luar a cabeleira crespa...


PIERROT ... a anca em forma de lira...


ARLEQUIM ... e a cintura de vespa!


PIERROT Mãos mimosas, liriais...


ARLEQUIM Em minúcias te expandes!

PIERROT Um pé muito pequeno...


ARLEQUIM Uns olhos muito grandes! Uma mulher igual à que encontrei na vida?


PIERROT, ofendido: Enganas-te, Arlequim, nem mesmo parecida! Era tal a expressão do seu
olhar profundo, que não pode existir outro igual neste mundo! Felinamente ardia a íris verdoenga e dúbia, como o sinistro olhar de uma pantera núbia. Esses olhos fatais lembravam traiçoeiras feras, armando ardis nos fojos das olheiras! Tão vivos que, Arlequim, desvairado, os supus duas bocas de treva e erguer brados de luz! Tripudiavam o bem e o mal nos seus refolhos.

ARLEQUIM, cismando: Essas coisas também ardiam nos seus olhos...


PIERROT Tive medo, Arlequim! Vendo-os, num paroxismo eu tinha a sensação de estar sobre
um abismo. Não sei por que o olhar dessa estranha criatura era cheio de horror... e cheio de doçura! Eu desejava arder nessas chamas inquietas...

ARLEQUIM Tendo o fim dos Pierrots?


PIERROT Tendo o fim dos Poetas! Aconcheguei-me dela, a alma vibrante louca, o coração batendo...


ARLEQUIM E beijaste-lhe a boca.


PIERROT, cismarento: Não... Para que beijar? Para que ver, tristonho, no tédio do meu lábio o vácuo do meu sonho... Beijo dado, Arlequim, tem amargos ressábios... Sempre o beijo melhor é o que fica nos lábios, esse beijo que morre assim como um gemido, sem ter a sensação brutal de ser colhido...


ARLEQUIM E que disse a mulher?

PIERROT Suspirou de desejo...


ARLEQUIM, mordaz: Preferia, bem vês, que lhe desses um beijo!

PIERROT Não. Ela olhou-me. Olhei... E vi que, comovida, sentiu que, nesse olhar, eu punha a
minha vida... Um silêncio cheio de angústias vagas. Sob o luar claro as almas brancas dos Lírios evocam fantasmas de emoções mortas. Os espectros das memórias parecem recolher, como numa urna invisível, a saudade romântica de Pierrot...

ARLEQUIM, tristonho: Essa história, Pierrot, é um pouco melancólica...


PIERROT A história desse olhar é toda a minha história.


ARLEQUIM E não a viste mais?

PIERROT Nem sei mesmo se existe...


ARLEQUIM, contendo o riso: É de fazer chorar! Tudo isso é muito triste!


ARLEQUIM Tomando-o pelo braço, confidencialmente:
Entretanto, ouve aqui, à guisa de consolo: diante dessa mulher...foste um Pierrot bem tolo! Aprende, sonhador! Quando surgir o ensejo, entre um beijo e um olhar, prefere sempre um beijo!

PIERROT, desconsolado: Lamentas-me

Arlequim?
ARLEQUIM Tu não compreendeste: choro não ter colhido o beijo que perdeste.

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